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Introduction

(a paisagem é um ponto de vista)


[...] Desde que se assegurou aristotelicamenete a arte de imitar a natureza, a natureza começou a desavir-se dentro da arte; e então a arte obrigou-se à expulsão da natureza, para ter a casa na sua ordem e nela manter habitação, sono e insónia próprios, e o despertar e a vida seguida.
Herberto Hélder, Photomaton & Vox

O mundo e a sua representação há muito que quebraram os laços que outrora os uniram. Isto é particularmente evidente na Fotografia, que perdeu o seu estatuto de substituto do real (embora inferior, ersatz), decorrente de uma capacidade de "prova", "evidência" do que é/foi, existe/existiu, acontece/aconteceu. A Fotografia, afinal, traiu a realidade e aproximou-se da ficção. Pior ainda, decidiu permanecer na fronteira. E as fronteiras sempre foram problemáticas. As fronteiras na fotografia dita "documental" não fogem à regra. Aí sempre existiram dois lados: verdadeiro e falso, justo e injusto, fiel e traiçoeiro, trágico e cómico, passado e futuro, destacado e envolvido, imparcial e militante, o ser e não ser, e muitos outros.
Este trabalho pretende situar-se algures na fronteira (cada vez mais difusa) entre a fotografia documental e a fotografia plástica, conceptual. Entre a realidade e a ficção, no sentido literário do termo. Joga-se aqui com ambiguidades deliberadas: estas fotografias serão uma encenação realista ou uma teatralização da realidade? Ambas, direi. Serão manipuladas? Umas mais, outras menos. De qualquer forma não se pretende ensaiar (mais) uma reflexão sobre a fotografia como forma de expressão artística. A intenção é reflectir sobre a ambiguidade dos nossos pontos de vista enquanto seres sociais. Não se descreve um acontecimento, uma situação, um traço cultural, mas antes atributos comuns de pessoas, do seu mundo, da sua vida. Neste caso o foco é na relação das pessoas consigo próprias e com a natureza, entendida como mundo natural e social.