Estou no RER. Não sei porquê, mantive a mão no bilhete amarelo com a lista castanha da RATP. De súbito, parece-me "menos amarelo do que eu julgara...". Mas de que amarelo poderia eu julgar de que ele era? O que me faz pensar que é "menos amarelo"?
Menos amarelo do que quê? Rectifico: "Não é exactamente o amarelo que eu pensava, não que ele seja 'menos' amarelo, mas não é 'esse amarelo que eu imaginava'".
Tento reproduzir para mim, ao lado do amarelo do bilhete, o amarelo de que deveria ser, na minha opinião. Mais limão, mais claro, mais alaranjado? Não creio. De onde vem a ideia que eu tinha da cor do bilhete de comboio?
Como poderia eu ter uma ideia de cor na ausência de toda a cor concretamente presente diante dos meus olhos? E como conservar esta ideia de cor de um outro amarelo diante da realidade desse amarelo (é um amarelo "falso", pensava eu). E agora dir-me-ão vocês: "Muito bem, pinte-nos o amarelo que julga ser o 'verdadeiro'". E, naturalmente, eu seria incapaz de o fazer.
Anne Cauquelin. A Invenção da Paisagem (p.79). 2008. Edições 70.
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