Para o visitante de passagem só há duas perguntas: "De onde virá a minha próxima bebida?' e "Porque é que estou aqui?".
E assim mesmo, ao escrever, lembro-me do vento do deserto a fustigar as águas verdes; do azul fino e duro do céu; de mulheres enormes que deslizam pela cidade em boubous de algodão de um roxo pálido; de casas com estores do mesmo azul duro contra as paredes de cinzento-lama; de pássaros laranja que fazem os ninhos nas acácias, em ramos que parecem penas fofas;
de reluzentes jardineiros negros a fazerem esguichar água de bolsas de couro, amorosamente, sobre filas de cebolas de verde-azul; de aristocráticos e magros tuaregues, de aspecto sobrenatural, com escudos de couro pintado e espadas brilhantes, rostos encobertos por véus roxos que, como papel químico, lhes tingem a pele com o azul das nuvens de tormenta; de sarracenos bárbaros, de cabelo enrolado como saca-rolhas; de raparigas da casta Bela, dos antigos escravos, com seios nus e firmes, a malhar o pilão e a enganar o tempo com monótonas melodias; e das monumentais senhoras songhai, com brincos fantásticos em forma de cestos, como os que usava a rainha de Ur, há mais de quatro mil anos.
Bruce Chatwin, Anatomia da Errância
Gosto particularmente desta foto. Faz-me lembrar África ou a América do Sul, cujos bares são idênticos a este , com cores berrantes e espaçosos. Aliás, o texto do Chatwin... está na mouche... Patagónia, Chile... América do Sul, enfim.
Abraço
Posted by: JG | 30/11/2009 at 17:36